Não sei de onde chega o grito – mais afeito a um campo de batalha do que a uma tranquila rua de cidade – mas a sonora indagação faz aflorar do fundo da memória "O Deserto dos Tártaros", de Dino Buzzati. Um militar desalentado, sentinela de um forte no meio do nada, e a eterna espera de quem estivesse vindo lá. Metáfora da vida, que vive apenas do que está por vir. Pessimismo nietzschiano, penso eu, ou a interpretação fiel do que seja o monótono desdobrar-se de um dia após o outro. Do que eles possam não trazer. Do que seguramente não vão trazer. Iludâmo-nos, portanto – um subjuntivo tão em desuso quanto a aceitação da realidade, a admissão de que tudo o que temos é o dia de amanhã – que um dia vai virar noite e não amanhecer nunca mais.
– Quem vem lá? Sabemos todos quem vem lá.
Il Deserto dei Tartari. Um livro que me marcou. Li no original.