Fernando Pessoa, no "Livro do Desassossego", diz a certa altura (na verdade repete a ideia do poeta inglês Edmund Gosse) que o ato de olhar às vezes se confunde com fazer. Ao olhar três ceifadores no campo (o exemplo é de Gosse) vejo um quarto ceifando – e esse quarto sou eu.
Desnecessário dizer que comprei a ideia imediatamente. Observo dois companheiros de trabalho atarefados e vejo três trabalhando – o terceiro sou eu; contemplo minha esposa lavando a louça e vejo duas pessoas lavando – a segunda... bem, vocês já aferraram o conceito. O que eu preciso fazer agora é agradecer Pessoa e a pessoa de quem ele garimpou a ideia. Meu próximo objetivo – considerando minha inconstante produção literária – é espiar uma pessoa escrevendo...
Estou vendo uma pessoa lendo.
Ciro, essa seria a forma erudita dos publicitários que queriam entrar na ficha de uma peça "premiável", daí diziam, "eu estava na sala".
Participação ilusória, mas real?! Um achado!